Não é apanágio do Barcelos trocar de treinador em pouco tempo: se analisarmos os treinadores do novo milénio, José Querido chegou no decorrer da época 99/2000 onde durou até ao final da época 2003/2004, sucedendo-lhe depois Vítor Silva que subira das camadas jovens e que ficou cinco temporadas, dando depois lugar a José Fernandes que, na sua terceira passagem pelo Óquei ficou dois anos e meio, saindo com a época 2011/2012 em andamento para regresso de José Querido que esteve apenas um ano e meio à frente dos destinos do clube, já que a SAD do clube entendeu por bem substituí-lo, tendo sido escolhido o treinador Paulo Freitas que estava há dois anos sem treinar, todavia, como o próprio nos disse nesta entrevista exclusiva ao Sempre Barcelos, não esteve inactivo e, acompanhou a modalidade bem de perto, pelo que se sente perfeitamente enquadrado no panorama do hóquei em patins a todos os níveis, inclusivamente no mercado, onde teve tarefa árdua já que viu apenas quatro jogadores manterem-se na equipa principal.
Dada a extensão da entrevista, fica aqui a primeira parte da entrevista, sendo a segunda parte publicada no dia de amanhã.
Sempre Barcelos: Estava sem emprego há duas épocas e, depois de se falar nos meandros do hóquei em patins de várias propostas, continuou sempre “inactivo”. Finalmente voltou, para treinar o Barcelos. Porquê só agora?
Paulo Freitas: Quando tomei a decisão de deixar o meu anterior clube, foi fundamentalmente porque começava a perceber que a motivação poderia não se manter no mesmo nível o que certamente conduziria a alguma “acomodação”, situação que de forma alguma poderia permitir.
Diria então que não estive “inactivo”, mas sim tratou-se de uma pausa necessária para quem estava ligado ao Hóquei Patins ininterruptamente há cerca de 33 anos (primeiro como jogador e depois como treinador – de camadas jovens e seniores). Permitiu-me fazer um acompanhamento por fora da modalidade e estar mais presente da minha família (que é um suporte fundamental na caminhada que venho construindo), fundamentalmente no acompanhamento que consegui dar aos meus filhos, também eles jogadores de Hóquei.
Somente agora porque se trata de um clube com uma importância enorme no panorama do Hóquei e porque tal como já afirmei se trata de uma missão que me seduz e me motiva enormemente.
SB: Temos Mister a longo prazo para devolver o Óquei de Barcelos ao topo? Qual a duração do contrato? No tempo do contrato dá para cumprir o projecto que lhe foi apresentado?
PF: Temos um acordo por uma época, que penso que é a solução mais correcta para ambas as partes. Da minha parte estou perfeitamente disponível para que as pessoas responsáveis do clube façam a avaliação contínua do trabalho que vai ser desenvolvido e por outro lado não é meu timbre ficar agarrado a lugares apenas por questões de ordem contratual. Ficarei até ao dia em que as pessoas concluírem que já não sou útil ao clube e também enquanto eu próprio me sentir bem no clube.
SB: Tem alguma
ligação com o Óquei de Barcelos sector juvenil ou vem somente para lidar com o
plantel sénior? Foi-lhe proposto liderar algum escalão mais jovem?
PF: Apenas ficarei com o plantel sénior do clube, contudo
estarei obviamente muito atento a toda a formação e sempre disponível dentro
das minhas possibilidades para colaborar em tudo o que me for solicitado.
SB: Em Março, após
uma divergência entre a SAD e o antigo treinador José Querido, constou-se por
Barcelos que Paulo Freitas podia estar perto de assinar pelo Barcelos logo ali.
Tem algo de veracidade ou não passa de um dos muitos boatos que todos os anos
correm pela cidade?
PF: Noticia que não teve qualquer fundamento.
SB: Falando da
composição do plantel… Pegou num barco já em andamento ou as renovações de Luís
Querido e Zé Pedro, assim como as contratações de João Marques, João Candeias e
Pedro Mendes tiveram o seu aval?
PF: Todo o plantel do Óquei de Barcelos teve e tem o meu
aval.
SB: Gostava de contar
com algum dos jogadores que entretanto abandonaram o Barcelos no final da
época?
PF: Este é o nosso plantel e é com esta gente que vamos todos
os dias trabalhar com o objectivo de dignificar as cores do clube e tentar
devolver o clube a patamares onde já se inseriu.
Esforço,
treino e paixão estarão sempre presentes no nosso “dia a dia”.
SB: A “novela Ricardo
Silva” teve alguns episódios… a primeira tentativa do OCB, a notícia de que
estava apontado a um clube italiano e, depois do Mister assinar, saiu o último
capítulo de que era reforço do Óquei. Foi uma contratação que tem o seu “dedo”?
PF: Tal como já afirmei a continuidade dos jogadores assim
como as contratações têm a minha total concordância.
SB: No sentido
inverso, Filipe Miranda foi dado como certo no plantel da próxima época a fazer
dupla com Ginho e, após a assinatura do Mister, ficou-se a saber que o
guarda-redes oriundo do Braga ia ser emprestado. Foi uma imposição sua?
PF: Não se tratou de uma imposição, mas resultou de uma
análise aprofundada áquilo que seria o nosso plantel. O Filipe é um jovem
guarda-redes com qualidade mas trazia atrás de si uma situação preocupante em
termos competitivos, ou seja, esteve praticamente três épocas sem ter
competição assídua, daí que se tenha entendido que a melhor solução para ambas
as partes era precisamente o Filipe poder fazer esse trajecto competitivo, para
que num futuro próximo possa ser opção no Óquei de Barcelos. Transmiti-lhe com
frontalidade esta decisão e o próprio jogador concordou com ela.
SB: Porque que se
demorou tanto a fechar o plantel? Foi notícia o interesse do OCB em Tiago
Rafael, Tiago Resende, Luís Viana, Carlitos, entre outros, que na verdade
acabaram todos por ir parar a outros clubes. Tratava-se de boatos ou na verdade
o Óquei foi incapaz de assegurar os serviços destes jogadores?
PF: Como sabemos em muitas situações trata-se de “boatos” que
por vezes circulam no seio na modalidade (vejam o exemplo daquilo que teria
acontecido em Março relativamente à minha pessoa), contudo também não nos
podemos esquecer que os jogadores têm vontade própria e que tem que ser
respeitada. Importante é todos pensarmos que o plantel de uma equipa não se
escolhe pelo “eventual peso” do nome dos jogadores.
Estamos
satisfeitos com o que temos e se alguma demora existiu foi porque ponderamos
devidamente para tentar tomar as melhores decisões.
SB: O Mister pode
fazer uma apresentação aos adeptos dos dois reforços argentinos? Quais as suas
características e o que levou a que fossem contratados?
PF: Trata-se de dois jogadores jovens (23 anos),
internacionais sub-20 e que ainda não tinham tido a possibilidade de actuar na
Europa. Ambos são ambiciosos e apresentam uma boa margem de progressão. São
produto da escola Argentina, que alimenta muitos clubes na Europa.
Natalio
Riveros é um jogador fisicamente poderoso, muito comprometido com as tarefas
defensivas e “dispara” bem de ambos os lados.
Ernesto
Ponce é um avançado bem dotado tecnicamente que pode ser igualmente utilizado
como “interior”, bom marcador de bolas paradas (livres directos) e com faro
pelo golo.
Fotos: MundoOk & Jornal "A Bola".